As idades da cidade

Envelhecer é um período muito importante da nossa vida. Constitui-se num processo do nosso desenvolvimento humano que deve ser vivenciado coletivamente. O que é um grande desafio. Porque o nosso país deixa muito a desejar na oferta de melhores condições de vida para todos nós que envelhecemos. Nossas cidades também. Os ambientes urbanos seguem, em grande parte, sendo hostis à presença das pessoas idosas. Com calçadas esburacadas; com o tempo de travessia nos semáforos próprio para quem pratica esporte de alto rendimento; com as filas enormes nos dias de recebimento de benefícios previdenciários.
Essas são algumas barreiras cotidianas enfrentadas por quem envelhece na cidade. Essa exclusão vai além do desenho urbano. Está presente também na gestão dos projetos arquitetônicos; no silêncio do orçamento público municipal; na invisibilidade das prioridades para o público 60+. As idades da cidade são muitas. Temos crianças que descobrem o mundo brincando nas praças; os jovens buscando o seu lugar na cidade; os adultos apressados em suas rotinas e temos também aqueles que com mais tempo de vida, carregam a memória da cidade. São essas pessoas que sabem, por exemplo, onde era o Cinema Excelsior. Hoje cede lugar a um aglomerado de unidades comerciais. Essas pessoas lembram também, entre outras tantas recordações de um tempo da cidade, do campo de futebol que foi substituído por uma grande rede de supermercado no Bairro Poço Rico. Como essas pessoas sabem da cidade!
Pensar a cidade a partir da perspectiva dos mais velhos não é apenas um gesto de cuidado é, também, um exercício de inteligência social e de alto grau de civilidade. Uma cidade que é boa para as pessoas idosas é, inevitavelmente, melhor para todos e para todas: mais acessível, mais segura, mais humana. Em tempos de crescimento da população idosa no Brasil, e tendo na nossa cidade mais de 100 mil pessoas 60+, está passando da hora de acontecer um debate político sobre o envelhecer urbano.
Como a Câmara Municipal se posiciona em relação a essa realidade local?.Precisamos ir além do registro das ações com as pessoas idosas fixas em fotografias nas redes sociais. O que a cidade tem feito para melhorar as condições de vida dos idosos? A pauta do envelhecimento tem que estar em todas as Comissões da Câmara Municipal.
Acima de tudo, é preciso escutar. As pessoas idosas tem muito a dizer sobre o que funciona e o que falha na cidade. Suas vivências são instrumentos valiosos para o planejamento urbano, para a construção de políticas mais justas, e para a criação de espaços onde a dignidade não tenha prazo de validade. Uma cidade para todas as idades é aquela que acolhe a diversidade dos tempos de vida: escuta, cuida e respeita todas as suas idades.
Que cada pessoa idosa não seja apenas mais uma estatística na matéria do jornal, mas um nome, um percurso humano com sua história. Que cada bairro, cada reunião, cada encontro ocorra com todas as idades. Que, juntos, façamos da nossa cidade, uma cidade completa – de gente e de gerações. Para a nossa salvação humana precisamos de encontro de olhares, de afetos, de histórias que se misturam sem barreiras e sem exclusões. Que JF não diga apenas que envelhece, mas que envelhece bem – com todas as idades e para todas as idades.
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